Caos

As penso eu
Como as coisas podem ter
aparência tão enganadora
ser aquilo e ao mesmo tempo não ser

"Por fora uma bela viola
Por dentro um pão bolorento"
Não a frase melhor
Que explique o meu desalento

A efemeridade de tudo
Nem o tudo sendo absoluto
Nem na ordem do cosmos
Há o resoluto

Ou há?

Sera que tudo o que vemos
Sentimos e temos
Não passa de uma brincadeira
Uma brincadeira de mau gosto?

Visto e posto
Que a ordem não é ordem
E o caos é mais que caos
É natural
A bagunça total
é mais que proposital
É o equilibrio do bem e do mal

 

O Caos

Na avenida:
Os passos
Perdidos de tudo
Da ilusão de um sonho
Que pensavas há muito perdido
Quimeras e questões
Abandonadas ao seu destino
Olhares súbitos de pessoas cegas
Com sede de ouvir blasfémias
Ritmadas e constantes
Passos que se perdem nas calçadas
Sonâmbulos sem rumo
Autómatos de um espaço
De um tempo que não existe...
Na avenida:
O tempo
Algo que não se vê
Troca-se com o olhar e...
Acaba,
Para os perdidos:
Um labirinto de incógnitas
Que nos fazem conhecer uns aos outros,
O ruído apodera-se de nós num momento,
Não acreditas em ti próprio,
Colocaste em choque
Não crês!
O teu Deus já morreu há muito
Talvez o de todos nós
Que nos desacreditamos de tudo
Talvez... Na avenida...

In Retalhos, Oporto, Papiro Editora, Abril 2006